quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

CHAMADO

ANANAIRA, ANANAIRA, ANANAIRA
IRA, IRA, IRA, IRACEMA

Mostre sua ira, menina Iracema.

ANANAIRA, ANANAIRA, ANANAIRA
IRA, IRA, IRA, IRACE
CE, OCE, VOCÊ...

Cadê, você?

Onde está que não responde?
Onde está que se esconde?

Iracemaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Iracemaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Iracemauá.

Onde está que não responde?
Onde está que se esconde?
O canto encanta os cantos,
Guerreira, ouvi.

O sussurro ao movimento do vento,
Lento por dentro, palavras.
Mexem, remexem
Onde está que não responde?
Onde está que se esconde?

Ira irá ao som sem trema
Marca e desmarca a cena
Nos passos entre passos,
Canta o conto, palavras, entre laços.

Luar no olhar de açucena,
Abre os braços, flor de campo,
Estende as pernas para o corpo.
Poema, Ira em ema.

Iracema como Iracema
Mulher, Terra, brasileira.
Canta Ceará em Mauá
A maldição de sua beleza.

Márcia Plana
28/08/05

SER

O ser e o parecer do poder
O ser é diferente do ter
Poder é ter não ser
Ser ou ter
Ser do poder
Poder do ser
Ser e não ser
Apenas ter
Aparece ser
Não ser
O ser do ser
Ser destrói o poder
Despoder
Extrai o ser
De pode Ser
O Ser em Ser
No simplesmente Ser
SER

Márcia Plana

MENINO LUZ & MENINA LUA

Menino luz
Menina lua

Menino luz
Menina lua

Gesta, gesta, gesta

As estrelas a piscar
O olhar no olhar

Acolhe a vida nos braços
Menino luz
Menina lua

Chora, não deixa ninguém dormir.
Os olhos estão fechados, chora!

Chora, a fome aperta o peito.
O seio não há leite. Chora.

Chora, o corpo todo sujo.
Sangue, lama, derrama. Chora.

Chora, a brincadeira acabou.
Sem começo foi guardada.

Chora e desperta o sonho
O olhar profundo da vida
Da partilha da ceia da terra
Do abraço no braço, o laço
Da vida que nasce e desperta

Márcia Plana

VINDA

Mundo miúdo estéril desaparece
Fatigado trêmulo na cor da dor
Retrato avesso mastigado em redemoinho
Depois, antes, agora inferno arrependido.

Abraça o silêncio marcado pelo vento
Vagarosas trevas ressecam a noite ao esmoer
Na última sepultura entregue a grande fome
Repousa a teimosia e urra a chegada da morte.

Reverte em rio de sangue o título oceano
Estremece nova carne no Universo
Prolonga o cordãozinho no corpo da Terra

Sem atraso suspenso o pulsar
Brisa fria, longa, clara fumegante
Recorta o Caminho dilatado, virgem nua.

Márcia Plana

SANTO MORRO EM DANÇA

Ventre da Terra, Luzia chora,
Estilhaçaram o olhar a olhar,
Implantam o belo na mata,
Desmatam a nascente flora.

Depósito do lixo urbano,
Numa curva de sete voltas
Gingado de dor e coragem
Deságua em noutras margens.

Lágrimas sagradas escorrem
No rio de muitas voltas, sacia
O ritmo a Mina ainda grávida
Sangra a linha das veias a vida.

O cordão que desenha o corpo
Do barro, o sopro: a Menina
Namora e deslumbra a bailar.
Tão Boneca de Porcelana!

Aquece, assim amadurece
Compromisso roda a aliança
Pedido na Pedra do amor
Salta água, terra e pão em festa.

Ciranda vestida de verde,
Bate o compasso ao vento chão,
Cadência o sustento da dança,
Vale e Pico, a valsa em volta.

Nós em nós um oito repeti,
Mapeia o baile em Atlas Atlântico,
Balança o espaço em aquarela,
Celebra o ensaio no curso as águas.

Ecoa, corre o som da torrente,
Gruta, reluta o passo refaz,
Mistura as cores na tela Pilar,
Que aqui do alto eu vejo Mauá.

Márcia Plana

TÍTULO

Morte, Vida Severina
Vidas Secas
Secas Vidas
Fogo Morto
O quinze
Quinze vezes quinze
O quinze
Os Sertões
Grandes Sertões Veredas
Os capitães de Areia
A Hora da Estrela
Angustia
A enxada
Metamorfose
Da Nova História

Márcia Plana

RESISTÊNCIA

Gritos, gemidos, dores
O ser
A luz da palavra
Ressurge
Texto
Arte em grito
Um canto
Um hino
Renasce
Esperança
Nunca antes morta
Mas...
Encolhida
Escondida
Reprimida
No riso a cor
No sonho o amor
Em roda
Ciranda
No beijo-flor
Renasce!

Márcia Plana

BUSCA DA LIBERDADE

Arte e sonho pulsam a vida e o coração
A esperança jorra alegria na canção,
Os lábios da juventude cantam indignação,
Denuncia a exploração de toda a Nação.

Ousadia registra as páginas da história,
Fatos que não estão em livros, mas na memória.
Não acalentam! Soluçam noite e dia: Sangue e flores,
Gritos e gemidos em outras cores.

Dança, em sonho histórias marcadas,
Nunca estiveram mortas, nem guardadas,
Talvez! Escondidas...
No sussurro da brisa da madrugada.

Passos e silêncios falam o grito mudo
Sentimentos ardentes e profundos
Brotam das entranhas humanas a felicidade
Música desenha a utopia e torna-a realidade.

No jardim perverso da escuridão noturna,
A claridade jamais amanhece
A incansável busca da liberdade
Anseia a vida da humanidade.

Márcia Plana

TAÇA QUEBRADA

Não vejo transparência
Morte, dor, aparência
Epidemia, sangue, mancha,
Morte reticências...
Secam as lágrimas,
Água coalhada,
Vinho coagulado,
Do corpo machucado.
Rostos Transfigurados,
Tempo nublado,
Taça quebrada,
Sem cor, luz e movimento.

Márcia Plana

SUJEITO

Somos sujeito
Sujeito do sujeito
Sujeito assujeitado
Sujeito a ser sujeitado
Sujeito a tudo e nada
Assustado!!!
Sujeito não sujeito
Sujeito só sujeito
Sujeito de mim mesmo
Sujeito a todos
Sujeito a tudo
Mas o sujeito
Protagonista
Onde está?

Márcia Plana

QUEBRA - CABEÇA

Uma parte na outra parte
Um inteiro
Parte na parte
Todo
Parte em parte
Parte
Tenho uma parte
Você tem outra
Se não somamos, dividimos
Se dividimos, não somamos
Nem subtraímos,
Menos nunca é menos
Quando não informado esquece
Informações têm que ser distribuídas
Formações têm que ser partilhadas
Uma parte em outra parte
Um inteiro

Márcia Plana

AMARELO

Amarelo
Amar elo
Amar é um elo
Brilho
Calor
Fogo
Amarelo
Ferve
Esquenta
Explode
Amarelo

Márcia Plana

DECORAÇÃO

DECORAÇÃO
DECOR AÇÃO
CORAÇÃO
COR AÇÃO
Parte
DE COR

Sangue
Vermelho
Marca meu peito
Cor de lágrima
Dança alvorada
Do amanhecer o ser
Amanhã
Floresce o ser
Da cor da paixão
Lábios em canção
DECORAÇÃO

Márcia Plana

INVERNO

INVERNO
INVERSO
VERSO
VERÃO

Márcia Plana

LITERATURA




ORDEM

Se a ordem não favorece a vida.
Faço desordem!!!
Mais nada.

Márcia Plana

TRANSFORMAÇÃO

O artista transforma morte em vida
Da árvore desfalecida,
Machucada, linchada,
Matéria morta
Deitada ao corpo terreno
O artista acolhe mudo e sereno
A pele rústica endurecida,
Judiada, adoentada, embrutecida.
Marcada pelo tempo e a história
Lágrimas e saudades
Olhar e olhares
Um ato de amor
Gesta um ser que pulsa ao ventre,
Criatividade e criação,
Nasce das profundezas do novo amanhecer
Da matéria rústica
Alegria resplandece o novo ser
No rosto da esperança e da luta
Da revolução por sons retirados do mesmo tronco divinal
Transparece a persistência e resistência
Triunfada na diversidade das culturas
A nova vida.

Márcia Plana